O NOVO SINAL

 

No topo de um alto cume, um peregrino observava o vale. Seus olhos fitavam as sombrias silhuetas dos habitantes da região descortinada diante dele.

Nas mãos protegia um cálice de néctar sagrado a ser vertido sobre o vale quando aqueles seres estivessem prontos para conhecer o Bem. Aguardava um sinal.

Tempos atrás outro guardião do cálice vira surgir em alguns pontos do vale, uma luz que revelava a presença da capacidade de amar e vertera parte do néctar. Os poucos que o puderam receber foram alçados a um nível de vida mais plena.

Ali, ante o peregrino, árvores eram plantadas, árvores eram cortadas. Casas eram erguidas, casas eram desfeitas. Caravanas acercavam-se do vale, caravanas afastavam-se dele. Toda a vida do vale desenrolava-se sob seu olhar paciente. Bem distante, nos limites do horizonte, nuvens pesadas se formaram. Ventos velozes moviam-nas com força, ruidosamente, mas nem a iminência de tempestade abalava o peregrino. Sem se mover dali, ele aguardava um sinal.

A aproximação do mau tempo levou os habitantes do vale a se protegerem. Cada um zelava pelo que lhe convinha, sem notar que a seu lado havia quem estivesse em maior desamparo. Mas numa das menores moradias pulsou mais forte um coração de mãe repleto de brandura. Ao ver uma criança abandonada, recolheu-a, mesmo sem condições de abrigar adequadamente os próprios filhos. Outros moradores do vale, tocados pelo que viram, seguiram-lhe o exemplo. Tornaram-se, por sua vez, semeadores de um estado de ser incomum.

Em pouco tempo a disposição do Bem floresceu. O néctar foi então vertido em maior quantidade. Os ventos mudaram de direção e o sol preencheu o vale com sua luz.

Boletim dos Sinais n.9 - Figueira

 

 

 

* * *   * * *   * * *   * * *   * * *   * * *   * * *

anterior índice próxima